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Poeta catarinense
com dedos podres
e mania de flâneur

Autor de "Cá Entre Nós -
Odes de Alusão e Ilusão"

LORENA DÁ À LUZ


De dentro
de Lorena emergiu não uma
mas duas, três outras que Lorena
desconhecia, ela só ria e ria e ria
tão engraçado era vê-las fazendo fila
para sair uma a uma lá de dentro
feito buraco em muro de convento
e era incrível que de cada uma delas
fosse em Lorena a outra que cabia
ainda mais convicta que a primeira
ainda mais legítima do que outrora
parecera (estava grávida e não sabia)
assim eu não me concentro, ela dizia
assim quero todas, e Lorena podia:
por muito tempo não fora outra
que não ela mesma, a primeira
de todas, aquela que só acena,
e Lorena ria (de nervosa) e ria
porque os mamilos das outras
faziam-lhe cócegas na barriga
ao passarem à mil por ela, e ria
como riria de quem dissesse antes
que o que antes lhe assombrara
acabaria um dia em poesia, e ria
como se soubesse (estava grávida
e sabia) que de dentro dela sairia
não uma, mas duas ou três outras
Lorenas que Lorena desconhecia