Minha foto


Poeta catarinense
com dedos podres
e mania de flâneur

Autor de "Cá Entre Nós -
Odes de Alusão e Ilusão"

A EMANCIPAÇÃO DE RAFAEL ZEN


Aos quarenta e cinco minutos
de close do pênis
de Hakim Bey
exibido em clubes
fechados (embora não tão
fechados assim)
Rafael Zen se ergueu
coriscante e anunciou
em altos brados:
eu não tenho nada com isso
que não sou escritor.
E também não sou daqui
(não tenho amor,
eu sou da Bahia
de São Salvador).
Olha meu bronzeado, disse ele,
mostrando a marquinha na cintura.
- Quem mandou dinamitar
o Teatro Castro Alves
fui eu! 
- Quem chutou o pau
da barraca, socou no pavão
o ferro de passar - eu!
Plateia tensa,
mediadores atônitos.
Lu do Lote: Bravo, Mestre!
Me telefonou depois
(ninguém mais se telefona
hoje em dia). Disse:
"As palavras, Lucas,
pertencem àqueles
que as usam até que
alguém as roube
de volta" -
 sem gaguejar
em nenhuma sílaba.
"E tem mais", continuou,
"sua escolha dessa metáfora
explica porque você confunde
eira com beira, alho com talho,
risca com bisca."
Peguei Rafael Zen
pelas fuças e disse amore,
equipe duo foguete,
se tens que ir embora
que seja para Pasárgada,
e alegríssimo sem sonhar
(ó a análise de discurso)
com exportação.
É que nesse trem que vai você
há promissores quitutes, eu sei,
eu soube, as cartas e cacacá.
Mas Rafael Zen é do tipo
que obedece ao que se manda
só para desobedecer
o que dele se espera
(lindo pero insuportável)
- toda uma labuta
nas quebras de expectativa.
Ah, Rafael Zen,
eu te pintaria com as cores
do descaso-desforra
de quem te quis
e nunca te teve,
só para retribuir
os péssimos conselhos
que me dás nesse sol
de quase dezembro, Rafael.
Vou ficando por aqui
com o que tenho, essa cara
de saco sem fundo.
Tu, já em trânsito:
do cu da cobra
para a boca
escancarada
do Mundo.