As cortinas sempre cerradas.
Alguns objetos da época
se encontram ainda
em grandes caixas
atrás das portas.
Nos quartos, há malas de viagem
à espera de serem desfeitas.
Nas gavetas,
correspondências intocadas.
correspondências intocadas.
Nos baús, acumularam-se os anos
e toda sorte de outras coisas
sem valor.
Repara aquele abajur
embolorado, sem a lâmpada. Vês?
É certo que lembras.
Não foi consertado
e ali permaneceu.
Desde aqueles tempos
em que costumávamos
em que costumávamos
nos sentar às poltronas
(agora bambas)
da sala de estar.
Tu e eu, a tecer ilusões
de grandeza, por horas a fio.
de grandeza, por horas a fio.
Como duas senhoras
a tomar chá,
muito íntimas
em seus tricotes.
Ou incestuosos irmãos
repletos de carícias.
repletos de carícias.
Daquela estante
retirávamos as obras-primas
e fazíamos escoar pelos corredores
as vozes dos mestres.
Líamos para as visitas.
Enchíamos os cômodos
Enchíamos os cômodos
de fluidas vibrações.
Quem é que diria que esta casa,
outrora tão repleta e sonora,
jazeria assim, um dia, silenciosa
e vazia, sem mistério algum?
Esta casa mantém um colorido apático
como numa antiga fotografia de família,
como numa antiga fotografia de família,
onde os velhos rostos não condizem
nem anunciam o que viriam a se tornar.
Neste lugar, tudo é comoção.
Tudo aqui é nostalgia de vida inteira,
a impor um ritmo catártico nas coisas
que restaram e nos fantasmas que ainda
vagueiam.
que restaram e nos fantasmas que ainda
vagueiam.
Como um anfiteatro condenado
prestes a ruir, diante de meus olhos
semicerrados, com ares de sonho,
de algum modo esta estranha casa
permanece.