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Poeta catarinense
com dedos podres
e mania de flâneur

Autor de "Cá Entre Nós -
Odes de Alusão e Ilusão"

O MURO


Aquele muro que avistamos,
a nos circundar, não nos resguarda.
Não é esta a sua finalidade.

É antes uma insólita alegoria
de algo que nos isola. 
Do que de nós não se evade. 

Flâmula zombeteira
e fixa no horizonte.

Não é fruto dum consenso, 
nem de um acordo. Não conclui nada. 

É um decreto silencioso, irrevogável
como as rochas que o compõe. 

Está encravado nas linhas do fim
para que incautos não o transponham.

Ali, haverá de permanecer, 
enquanto não for desfeito.

Este muro, ao contrário do que possa
                                                  parecer,
não indica tempos de paz.
É indício de uma guerra armada. 

De teu avô alveneiro herdaste 
o talento para a dureza.
Homem que era de tão poucas 
                                  palavras.