largas porções
de trapos de tecido.
Depois,
cascas de frutas
e restos de vegetais
já fermentados.
Sorvo-lhes o suco.
Sugo até a derradeira
e restos de vegetais
já fermentados.
Sorvo-lhes o suco.
Sugo até a derradeira
gota.
Refestelo-me.
Mesmo um cão rejeita
o intragável,
mas eu, não.
Sou glutônico
e repulsivo,
a tudo devoro
sem fazer distinções.
Exsudo pela língua
meu interior corrosivo.
À imagem de meu pai
- glutão irrefreável -
e pai de todos nós,
herdeiros do tempo.
Mais adiante,
conforme chega a mocidade,
passo a engolir parafusos,
lascas de lâminas, pregos,
alfinetes, moedas e peças
de maquinário.
Garrafas e talheres,
louças e apetrechos
de toucador,
frascos de perfume,
malas velhas
de viagem.
Placas de trânsito,
bobinas de cobre,
balas de canhão.
De jovem adulto,
meu apetite se volta
à toda sorte de pequenos
seres
Refestelo-me.
Mesmo um cão rejeita
o intragável,
mas eu, não.
Sou glutônico
e repulsivo,
a tudo devoro
sem fazer distinções.
Exsudo pela língua
meu interior corrosivo.
À imagem de meu pai
- glutão irrefreável -
e pai de todos nós,
herdeiros do tempo.
Mais adiante,
conforme chega a mocidade,
passo a engolir parafusos,
lascas de lâminas, pregos,
alfinetes, moedas e peças
de maquinário.
Garrafas e talheres,
louças e apetrechos
de toucador,
frascos de perfume,
malas velhas
de viagem.
Placas de trânsito,
bobinas de cobre,
balas de canhão.
De jovem adulto,
meu apetite se volta
à toda sorte de pequenos
seres
à beira dos regatos,
sirvo-me de amebas
e de salamandras.
Arraias e rãs.
Caço por larvas
nos lamaçais,
vermes rastejantes
sirvo-me de amebas
e de salamandras.
Arraias e rãs.
Caço por larvas
nos lamaçais,
vermes rastejantes
centopeias sinuosas
e libélulas que flanam
sob a lama.
Quando os encontro,
não os examino,
nem os cheiro:
finco-lhes logo os dentes
e engulo com pressa,
nuns poucos bocados.
Mas há o momento
de minha genealógica sina.
Não sei ao certo
quando é que devoro
um semelhante
pela primeira vez.
Tímido, a princípio,
desprendendo os dedos
das juntas, devagar,
roendo desde as pontas
das unhas ao branco
do osso.
Acabo por tomar gosto.
Depois, uns olhos soltos,
um par arrancado de orelhas.
E por que não as vísceras,
tão tenras e nutritivas.
E por que não os músculos,
os nervos e as partículas.
Depois,
um corpo por inteiro.
Depois outro, e outro,
e outro mais.
(Perdi as contas
na casa dos trinta)
Daí para a frente
famílias inteiras,
linhagens completas,
estirpes, casas e brasões.
Depois, cidades inteiras.
Hoje, são civilizações
o que devoro.
Herdei de Saturno
os maus hábitos
e o mau hálito.
Quando os encontro,
não os examino,
nem os cheiro:
finco-lhes logo os dentes
e engulo com pressa,
nuns poucos bocados.
Mas há o momento
de minha genealógica sina.
Não sei ao certo
quando é que devoro
um semelhante
pela primeira vez.
Tímido, a princípio,
desprendendo os dedos
das juntas, devagar,
roendo desde as pontas
das unhas ao branco
do osso.
Acabo por tomar gosto.
Depois, uns olhos soltos,
um par arrancado de orelhas.
E por que não as vísceras,
tão tenras e nutritivas.
E por que não os músculos,
os nervos e as partículas.
Depois,
um corpo por inteiro.
Depois outro, e outro,
e outro mais.
(Perdi as contas
na casa dos trinta)
Daí para a frente
famílias inteiras,
linhagens completas,
estirpes, casas e brasões.
Depois, cidades inteiras.
Hoje, são civilizações
o que devoro.
Herdei de Saturno
os maus hábitos
e o mau hálito.