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Poeta catarinense
com dedos podres
e mania de flâneur

Autor de "Cá Entre Nós -
Odes de Alusão e Ilusão"

PESCA SUBMARINA

Estes trajes
de arraia negra
predizem o futuro.
O último mergulho
mortal na baía
escura.

Com quantos braços
(se me faltam todos)
se faz um remo?
E em quanto tempo
(se soçobram) da margem
até o centro?

Tomar da vida
a proa larga.
Cuidado,
era o que a voz
me dizia:
as águas da baía
têm muitos braços
nas madrugadas.

Ponta de arpão
largada na orla,
barrigas perfuradas.
Apolos e altivos
e adãos jazendo
nas areias.
De entranhas à vista,
príncipes e palhaços
e quixotes entreabertos.

Acometido da visão
de haverem me encontrado
ali, caído entre os peixes,
algas a pender
afora da boca.
Me vi morto.

Verdadeiramente morto,
como nunca antes, embora
ainda mais vivo que outrora.

Desde então,
compete à mim
o que se ergue do fundo.
A mim e só a mim
o que se esgueira
sob a superfície,
e que se revela
em borbulhas
largas.

O monstro do lago
da lenda. O que se faz
impressão de presença.
Contorno de sombra
sinistra vista de cima
a cortar as águas.