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Poeta catarinense
com dedos podres
e mania de flâneur

Autor de "Cá Entre Nós -
Odes de Alusão e Ilusão"

TU, QUE ME LÊS


Tu, que me lês nos macegais,
por detrás dos espinheiros.

Das cercas-vivas, pelos cantos
dos muros, nas naturezas-mortas.

Talvez recurvo sob fachos de archotes.
Talvez à luz de telas líquidas.

À fiel distância
de quem espreita

Pelos trincos das portas,
pelas frestas da feira.

Tu, que me lês como quem se deita
em cacos, em fragmentos soltos,
nas lascas afiadas do poema.

Da epígrafe ao rosto da folha,
crivadas ao corpo como camafeus.

Tu, que me lês com olhar sígnico
de quem lança cartas sobre a mesa.

De quem se guia pelo eco surdo
na penumbra dos caminhos.

Tu, que me lês nos reflexos
das vidraças. Fazes, das palavras,
corredores.

E dos corredores, ameaças
de tua impossível presença.
Algo de irrespondível

Que, ao longe, acena
sem gesto algum.